25 de maio de 2012

Ópera Silenciosa - Londres, UK

Nunca fui muito fã de ópera, além de ser um espetáculo caro de se ver em qualquer parte do mundo, mas ao ler a agenda cultural desta semana fiquei interessada em assistir La Bohème - Ópera Silenciosa (Silent Opera).

Menos de 20 minutos de trem, chego a estação de Waterloo e é no subterrâneo deste lugar que tudo acontece – no Old Vic Tunnels. O teatro Old Vic, um dos mais prestigiados da cidade e cujo Diretor Artístico é o talentoso ator Kevin Space, adquiriu há cerca de 2 anos uma área dos túneis de Waterloo.
Num dos lugares mais inusitados de Londres, o excêntrico espetáculo é mais uma das performances alternativas e über contemporâneas que lotam o espaço todos os fins de semana.
credit: Blog.visit-london. com 
Passo por grafites e skatistas e finalmente encontro a pequena entrada dos túneis. Compro uma bebida e sento para notar a audiência. Vários jovens, casais, famílias, outros sozinhos. Um trio de góticos, nos seus 50 anos, senta-se na mesa a frente, mas não vieram para a ópera. Alguém anuncia que “Vampire Circus” vai começar e lá vão eles para a sessão de cinema. Uns dois casais beirando os 60, chamam minha atenção: elegantemente vestidos para a ópera e aparentemente perdidos, fora de seu ambiente tradicional em uma ópera tradicional!

19h30 e finalmente vai começar. Pego meus fones de ouvido e passo por diferentes cenários até chegar ao mezanino, decorado como se fosse um apartamento de jovens --- cheio de pufes coloridos, cadeiras, computador, guitarra, pôsteres de cinema e bandas de hip-hop, e até uma boneca inflável.  Aglomerada, a platéia ocupa todos espaços possíveis e, aos atrasados, só lhes restou sentar no sofá ou junto a mesa de jantar onde a ação com certeza iria esquentar.

Sem qualquer aviso, escuto o som cristalino pré-gravado da orquestra de fundo,  enquanto tenor, sopranos e outros entram em cena.  Os jovens boêmios são trazidos numa versão 2012, onde consigo visualizar pelo menos alguém conhecido em um daqueles papéis: um tatuador, uma cantora, um ativista, um hacker de computador, e Mimi, como estudante. Os diálogos incluem uma linguagem rotineira, com direito a gírias e alguns palavrões. Os jovens cantores, com um figuro simples (tem um com jeito de estudante da USP) e mostrando suas tatuagens, caminham, correm e interagem com o público, trazendo a experiência da ópera o mais próximo possível do seu ouvido e coração. Dramático, intenso, é desfrutar tanto talento nesta tão íntima proximidade. Finalmente, sentados em almofadas no chão, à meia-luz, testemunhamos a bela cena final com uma interpretação impecável da nossa Mimi, que nesta versão de La Bohème, morre de anorexia.

Tenho certeza que Puccini ficaria extasiado ao saber que após mais de um século, a releitura high-tech de sua ópera versão 2012 está ainda mais acessível a todos, mesmo que apreciada através de um simples iPod.

Mais informações: www.oldvictunnels.com
(Crédito Foto Túnel: flowizm website)

Um comentário:

  1. Nooossa! Deve ter sido uma experiência ímpar! Eu que adoro esses espetáculos ligados ao mundo da música e interpretação, de uma forma dramática, tudo junto e misturado! De ter sido incrível!
    O jeito como vc escreve, tão detalhado, me faz entrar no ambiente...como se vc fosse meus olhos! Adorei!

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