24 de setembro de 2011

Os Passos Espirituais da Dança - Londres, UK

Ainda era inverno por estas terras quando uma amiga me convidou a participar de uma tal Dança da Lua Cheia aberta somente a mulheres. Um dia cinza bem deprê, fazia muito frio e depois do trabalho o que eu mais queria era ir pra casa, tomar um banho quente e ficar debaixo do cobertor. Acabei pegando o folheto com os detalhes e ao chegar em casa, joguei o papel no fundo de uma gaveta. O tempo passou e depois de meses me lembrei da dança. Chequei o website que em resumo dizia: Dança dos 5 Ritmos Universais, com professora expert em cura shamânica, sessão na igreja de St. Peter. Peraí... ritual pagão na igreja? Não entendi bem, mas fiquei super curiosa... gosto de dançar, aprecio a conexão com a natureza e a lua sempre me fascinou, então, eu realmente tinha que ir ver o que era aquilo!

Antes de ir, fui pesquisar para saber um pouco mais a respeito. A Dança dos 5 Ritmos Universais foi criada pela americana Gabrielle Roth. Esta dança é uma forma de meditação, que te leva a encontrar o movimento natural do seu corpo, te faz conectar com suas fontes de energia, e te faz liberar o poder curativo do teu movimento. Ao dançar você entra num campo energético chamado "Wave" (Onda) com 5 diferentes vibrações: "Flowing" (Instinto), "Staccato" (Intimidade), "Chaos" (Intuição), "Lyrical" (Integridade) e "Stillness" (Inovação).

A sessão começava às 19h30 e iria durar cerca de suas horas. Ao me aproximar da igreja, imaginei que seria num daqueles tradicionais salões paroquiais onde fazem aqueles bazares e bingos. Achei a entrada por uma portinha escondida nos fundos da igreja e não acreditei nos meus olhos: uma linda igreja gótica de 1864 à meia luz, com algumas velas espalhadas e um enorme tapete vermelho. Já tiro meus sapatos.


A sessão começa e eu nem percebo. Pessoas sentadas, fazendo alguns movimentos, se aquecendo, e mais e mais pessoas chegando. Há mulheres de todas as idades, jovens e idosas. 
Não tem instrução nem introdução. As músicas naturalmente te inspiram a começar se mexer, a buscar sua própria harmonia. Não há espaço pra timidez, cada uma faz o que quer, se movimenta livremente, arrisca os mais variados e loucos passos de dança, caminha, corre, senta, deita. Uma vez ou outra tento entender o que a professora está sussurrando ao microfone… ah! agora é pra você buscar uma parceira e imitar os movimentos de dança dela; uma tentativa de te tirar um pouco do seu momento individual e se integrar com as outras. A seleção musical é eclética e simplesmente, o máximo. Diferente momentos, diferentes batidas. Um mapa pra sua jornada, pra você se conectar com o seu sagrado.

Não espere somente músicas New Age e afins, tem de tudo. Olho a minha volta e ao som de música eletrônica, eu e umas 60 mulheres estamos pulando. De repente vem aquela onda de energia que te faz gritar e estamos nós lá, botando a voz pra fora no máximo volume.


Os santos, estáticos, olham aquela loucura toda. Nunca devem ter esperado ver na igreja uma rave em noite de lua cheia.


A sessão finalmente acaba e só agora eu percebo a lua cheia pelos vitrais da igreja. Testemunha o tempo todo.


Já fui a três sessões e uma vez por mês, quando a fase da lua mudar, tentarei estar por lá!









Para mais detalhes sobre a Dança dos 5 Ritmos, acesse www.gabrielleroth.com e www.bodysong.co.uk


10 de agosto de 2011

A comunidade arregaça as mangas - Londres, UK

Muitos especulam, mas ninguém sabe realmente a raiz do problema, o que está gerando tanta violência na Inglaterra nesta última semana.  Em vários pontos de Londres, os jovens lançaram bombas caseiras, fizeram barricadas, destruíram negócios e, é claro, saquearam lojas, levando tudo o que podiam carregar. Ironicamente, no bairro de Clapham Junction, um dos mais afetados, em meio a muito tumulto uma grande livraria ficou intacta. Muitas lojas agora estão fechando mais cedo e colocando tapumes para isolar suas vitrines. Cada um busca sua própria proteção. Como o número de policiais parece não ter sido suficiente para conter os vândalos, as vendas de taco de beisebol pelo website da Amazon aumentaram cerca de 5000% nos últimos dias (fonte: CNN). E o que estava acontecendo só na capital, se alastrou pelo país... é chocante ver as imagens.

No meio de tanto tumulto dois amigos, sensibilizados com o que viram, resolveram agir. Eles lançaram o grupo Riotcleanup no Twitter há menos de 48 horas e já conta com mais de 85.000 seguidores. Riotcleanup, que significa Motim da Limpeza,  é uma iniciativa para juntar voluntários e limpar ruas e lojas. Souberam se organizar muito bem e definir a agenda da limpeza para cada bairro onde cada um traz luvas, pás e sacos de lixo, vassoura,  e muito boa vontade. Ninguém está perdendo tempo em condenar, mas em ajudar. É simplesmente inspirador o senso de comunidade. Duas pessoas conseguiram mover centenas em mutirões de limpeza, e agora seu exemplo segue para outras cidades do país.

Enquanto isso, os políticos que não pegam na vassoura, tentam se justificar. O prefeito voltou mais cedo de suas férias de verão e deu uma primeira e patética entrevista --- engasgou e não falou nada. A oposição se concentra nos fatos a seu favor: os cortes na polícia metropolitana feitos pelo governo local e os que estão planejados. A verdade é que realmente desde o ano passado, com o governo de coalizão e primeiro ministro conservador no poder, a coisa ficou feia. Muitos cortes nos programas sociais, desemprego alto, entre outros, têm afetado o país e a desigualdade social, para o que é um país desenvolvido, está cada dia pior. Muitos destes baderneiros não têm nada a perder, já não têm emprego e nem estão na escola. De qualquer forma não há desculpa para seus atos violentos, somente para conseguir um novo par de tênis, uma TV de plasma.

Agora é a hora de limpar and that's it. Ajudar os que foram afetados, os negócios que foram destruídos e ainda, melhorar os ânimos de todos. A resposta para o que está gerando estes tumultos fica pra depois. O importante nas próprias palavras do grupo Riotcleanup:
"Vamos nos perguntar o porquê amanhã. O primeiro passo é mostrar amor às nossas comunidades que precisam de ajuda; o problema é muito maior e existe, mas vemos no pós-limpeza".

8 de agosto de 2011

Selamat Tinggal! - Jacarta, Indonésia

Safe stay Jakarta!
Detesto a palavra "adeus", é muito forte e é aquela coisa de "nunca mais eu vou te ver"! Sempre há aquele desejo de voltar, então um "até logo" basta! Minha temporada em Jakarta está chegando ao fim. Esta semana retorno a Londres com uma merecida curta parada no aeroporto de Dubai para encher a mala de pistaches e tâmaras. Mas a verdade é que deu vontade de ficar um pouco mais...

Super populosa, trânsito caótico, níveis elevados de poluição, uma cidade que não vale muito a pena visitar. Foi isto que encontrei em meu guia de viagem e confesso que fez baixar um pouco minhas expectativas antes de vir, já que a descrição lembra muito aquela cidade... seria São Paulo?
Que prazer descobrir uma cidade vibrante e com muita coisa positiva! O que vou sentir mais falta? Com certeza será das pessoas e seus sorrisos por todos os cantos da cidade, sua tolerância e respeito com os outros.

Vivi momentos únicos este ano em minhas andanças pelo Sudeste Asiático e tenho muito o que escrever aqui e compartilhar com vocês -- Timor-Leste, Vietnam, Malásia e Indonésia.

Aguarde meus próximos postings.  E pros que ficam, Selamat Tinggal!





3 de agosto de 2011

Paisagem Urbana II - Jacarta, Indonésia

Acabei de avistar um rapaz nu, carregando somente uma bolsa que cobria parcialmente sua bunda, no distrito financeiro aqui em Jakarta.

O Ramadan, mês sagrado para os muçulmanos, maioria da população indonésia, começou na última segunda-feira. Interessante ver o jovem caminhando naturalmente pela grande avenida, às 18h30, quando a maioria das pessoas está se preparando para ir à suas casas, encontrar a família e celebrar o "Iftar", a refeição para quebrar o jejum do longo dia. 
Deve ter tirado o apetite de muita gente...

25 de julho de 2011

Paisagem Urbana - Jacarta, Indonésia

Imagine você, fazendo cocô a céu aberto às margens do Rio Tietê numa sexta-feira, seis da tarde, horário de pico, com aquele fluxo interminável de carros,  rotina conhecida na capital paulista.  Pois é, sexta-feira passada estava eu, no meu ônibus voltando pra casa na lentidão do trânsito em Jakarta, quando vi este homem de meia-idade e chapéu azul, de cócoras se preparado para o ato, à beira de um córrego, numa das avenidas mais movimentadas da cidade!

Não, não creio que seja um caso raro. Se fosse no Brasil talvez iriam dizer “Coitado, o cara tá ruim da cabeça”, mas penso que não devia estar. Há uns meses atrás também vi uma velhinha fazendo o mesmo em Hoi-an, no Vietnam, ao lado da barraca de peixe no mercado local. Só ainda não sei exatamente onde estes dois casos específicos se encaixam – extrema necessidade ou cultura? Parece que na China isto acontece também, e muitas vezes os protagonistas são pessoas muito simples, analfabetas, que não têm noção de bons modos, e para quem este tipo de atitude é natural -- e não os culpo em nada. Pode ser que isto seja comum em outros países asiáticos já que todo o povo do ônibus que estava perto de mim, e também vendo a cena, parece não ter dado a menor importância.

Eu e minha poker-face. Nenhum músculo mexido. Ao ver aquela cena inesperada, a única coisa que fiz após uns segundos foi desviar um pouco o olhar porque não tinha interesse nenhum em contemplar aquela bunda por muito tempo. Nem bonito o cara era. 

Chego a conclusão que minha vida nos últimos quase cinco anos vivendo fora do país me preparou para este tipo de reação, ou melhor não-reação. Cansei de escutar que europeu é frio. A realidade é que ao menos em Londres ninguém se intromete na sua vida e você em geral passa despercebido, e isto tem suas vantagens.  Até uns tempos atrás eu me preocupava muito com o que os “outros” iriam pensar, se minha roupa estava apropriada, e blá blá blá. Os “outros” eram 99% das vezes totalmente desconhecidos. Gente que eu nunca vi antes, não voltaria a ver, e que não pagam minhas contas.

Em Londres já vi gente vestindo pijama em shopping-center, Marilyn Manson mesclado com Lady Gaga no metrô e homem quase pelado na rua. Claro que seria mentira se dissesse que desvio o olhar em todas as ocasiões, como foi desta vez já que, convenhamos, este foi um caso atípico. As vezes eu olho, mesmo que discretamente, sem julgamento. Muitas vezes com admiração desta gente que vive do jeito que quer sem perder tempo. Já não tenho aquela antiga espontaneidade, talvez imaturidade, de cutucar a pessoa do meu lado para fazer qualquer comentário e destilar um veneninho. Estas coisas já não me chocam mais, e sou eu agora que “tô nem aí”. Cada um faz o que bem quiser de sua vida. Para mim não existe verdade absoluta; há dois lados da história.

Aprender a não dar tanta importância pro que os outros vão pensar me ajudou a me sentir mais livre e tomar melhores decisões. E como já dizia minha saudosa professora Carmen, na época, uma das que a maioria dos alunos mais detestava, aquela coitada que virou alvo preferido de brincadeiras maldosas e que até recebeu um vibrador de presente em sala de aula, “Falem bem ou falem mal, mas falem de mim.”

E quanto ao pobre homem, fica a questão de que o levou a compartilhar aquele momento tão intimo com a multidão de transeuntes, inclusive eu. Mas se ele realmente precisava fazer sua necessidade e não tinha como esperar nem mais um minutinho, ponto pra ele. Fez o que deveria fazer e que se dane o resto.


20 de julho de 2011

Você está morando onde mesmo?

Sempre ouço esta pergunta...  
Ultimamente tem sido difícil definir onde é minha casa, aliás, eu venho me perguntando o que é casa...  Tenho vivido em vários lugares, viajando de lá pra cá, nunca sei bem para onde vou e por quanto tempo, mas eu vou. Afinal, a gente tem que ir, não é?

Viajar é minha paixão e um aprendizado todo santo dia. E eu abraço com muita força esta oportunidade de ter um dia tão diferente do outro. Quero aqui compartilhar minhas histórias e opiniões, viajando e vivendo em outros países, conhecendo outras culturas, me conectando com o mundo.    

Espero que você curta meus textos e deixe suas opiniões já que eu e outros leitores também queremos saber o que você pensa!

Até breve e espero sinceramente te encontrar para um café em qualquer parte do mundo!